Conta-nos agora desse teu sonho
de esquecimento, dessa manhã
parada junto aos canteiros de rosas.
A garrafa a boiar na mensagem.
O dia recomeça-se lento junto
ao fundo da incerteza que anoitece.
Acordar esmagado pela sombra
absoluta de um amor absoluto
ou a falta dele. A promessa frágil
de um verso sem voz nem futuro.
Acordar vazio num coração preso,
colado à transformação dos versos.
Conta-nos da tua mais profunda
lembrança, o teu maior segredo
informulado. Olha-nos sensível
junto à insensibilidade das mãos.
Olha-nos de frente para o resto
dos versos, conta-nos a verdade
que não dizes clara. Fala-nos de ti
dessa sensibilidade que escondes
a todo o custo. Será que receias
recair junto às desgraças do amor?
Esse amor terrivelmente devastador
um todo medo sensível que adormece.
E tornas a cair junto aos lençóis
dum não-futuro, à boca fria da noite.
Eu quero gritar sem que me ouças,
eu quero escrever sem que o sintas.
Não sei que caminho é este, desconheço
os dias que crescem para lá da maturidade.
Trago à luz da noite imagens de memória:
um travo doce junto à inconcreta reformulação
do que não somos: o travo sal da oposta
visão ao outro tanto que não temos.
Conta-nos agora porque anoiteces assim:
junto à madrugada dos teus sentidos.