AGOSTO 2010

cafésolo

terça-feira, 29 de março de 2011

a imensidão da memória
















Procuramo-nos bucólicos,
no meio do arvoredo 
[plantado] entre nós e o
enredo presente de betão.

Distraímo-nos citadinos
no meio do cimento 
[cumulado] entre nós e a
verdura distante do campo.

A urbe teima e faz-se notar
por aqui. Rasgados aviões
cortam os céus como facas 
levitam no topo da imensidão:
 um azul [claro] de memória.

O fim da tarde aninha-se
ríspido, trazendo um aperto
propagado às artérias: são
os ponteiros que avançam:
 pelo pulsar do coração.

sábado, 26 de março de 2011

síntese















                                                  Para todos os meus leitores.


É urgente resumir aquilo que vejo
desde o esplendor de «Trafalgar
Square». Mas não resta simples
este resumo. Tenho acordado

a todas as horas desde Londres.
Como se a cada minuto que passa
ficasse mais perto desse ponto
de mira –  que pulsa –  presente.

Outras coisas há que se repetem
vezes sem conta. Há rostos repetidos
que nos centram pela clarividência
à firmeza da nossa síntese. Ou por

outra, direi: um resumido desejo
que se reverte centrado em nós.
Quem nos legenda o futuro
no momento que nos prediz?

quarta-feira, 23 de março de 2011

«forgotten»

















Já todos se sentiram vetados a um certo 
esquecimento [pelo menos uma vez na vida].
Outros desejaram receber a correspondência
certa, dentro dessa caixa fechada por onde

se esconde o coração. E não há chave ou 
código que nos valha para decifrar o enigma.
Um afastamento de um mundo tão real quanto 
as brancas pedras negras desfeitas entre

o cinza da chuva na calçada. E há pássaros 
que irrompem o todo silêncio, questionam 
a quietude da voz que implode ao final 
da tarde no peito. A luz acompanha a ruína 

de um certo esquecimento, apaga-se pelo 
entorpecer das horas que deixam de fazer 
sentido, uma e outra vez. Há um copo 
de gelo que se desfaz num líquido perfeito;

assiste quieto ao desdobrar branco 
de um deserto instalado pela casa. 
Acende-se depois um rastilho púrpura 
nas palavras atadas ao resignado acto 

de escrita. E de forma, diria, quase cons-
ciente, retira-se da ideia ou verso inicial
a clivagem necessária no resto que não há para
lamentar, para esquecer, ou se [quer] ver esquecido.   

quinta-feira, 17 de março de 2011

«no regret»
















Estarei longe de ser o fiel depositário
da tua verdade? Os meus cigarros
eu próprio faço e nem tanto me moem
quanto o próprio esquecimento.

Ontem ficou tarde para tudo quanto
em nós foi. Desencontramo-nos entre
todas as horas, tal como os meses
se demoraram frios ao passar.

E agora a noite – reconhece-me como
a mais ninguém – pressente-me em gestos
que desconheço, tampouco sei onde vão.
Talvez seja o medo, o mais sereno de todos

os passos, a mais pura verdade que se esconde
dentro de um silêncio (que não se abre a ninguém).
Ficará sempre tarde quando não vens, quando
não estás, quando não voltas para ficar.

Fica difícil habitar num mundo onde as janelas
se parecem fechar num torpor de inverno.
Não fica fácil perceber por que caminho
ou expediente se deve endereçar tal vazio.

Terminaria dizendo:
que me faz falta a tua serenidade;
O mesmo será dizer:
o teu equilíbrio e o fim do poema.

sexta-feira, 4 de março de 2011

aconchego das mãos



















Planta-se uma vida
a vermelho sangue
planta-se um amor
na destreza das mãos;

planta-se um rumo:
por linhas dispersas
reféns de um desejo:
de um futuro azul.

Olha-se a doçura
nas maçãs do rosto
& regressa-se à pressa
pela fúria da queda.

Entra-se pelo escape;
no poder do acaso
destino presente;
& definem-se rotas

às redondezas da carne.
Sente-se longe a espessura
de um grito, sinto-te perto
no aconchego das mãos.