AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Hoje não vos venho falar de amor





Hoje não vos venho falar de amor.
Não consigo falar de um tempo que desliza
ao contrário. Tenho dificuldade em olhar
para trás. Tenho dificuldade em dizer
o quanto fui brusco fugindo de ti.

Poder-se-ia dizer que tivemos (quase) tudo:
- um futuro, uma estrada: a alegria das coisas
simples. Mas havia já um novelo deslaçado a dois
tempos, nas paredes arrítmicas do coração.

Depois calamos a revolta no vazio das palavras,
perdemos o balanço, morremos na rotina. Fomos
até ao cabo do medo, atravessamos a espessura
de dez invernos e chegamos até ao fim de nós.

Não conseguimos atravessar a densidade
do cimento (que fomos construindo), junto
à estrutura assimétrica da indiferença;
E fomos indo no adeus, até ao fim do mundo,
______________________    [até ao fim do amor.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

as tuas mãos: procurando as minhas



que fazias durante o silêncio?
porque te vais
por entre as janelas azuis?
ouvia todo o silêncio
como lume:
as minhas mãos
quentes no teu rosto


e o teu olhar perdido 
no calor das mãos
um mundo que se apaga
em todo o esquecimento
a magia deixada entre as janelas
e o fim da rua nas tuas mãos:
procurando as minhas.


domingo, 9 de junho de 2013

my own skin



Os últimos nativos
da nossa espécie
há muito se foram.
Ficou tarde, noite,dia,
digo:
deixou de existir tempo
e espaço para sobreviver.

Havia sinais de pressa
de amargura e revolta,
o medo aliado à potência
de uma última palavra.

A procura na firmeza da pele:
ou o desequilíbrio
no hesitar do coração,
a decisão acertada:
sem olhar ao modo
como os beijos se perdem
na incerteza da sedução.

Como um amor que se teme
sem querer,
porque se deseja
sem pensar
porque o procuramos
sem prever os defeitos
colaterais desse fogo.

Resistências de uma vida
que não nos representa
e convida a sair do jogo
como se apostássemos
o resto da pele
no resto do tempo
que deixamos de ter.