AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

as pessoas preenchem espaços




As pessoas preenchem espaços.
Como se por obra da sua existência
se nos pudessem emprestar
um pouco daquilo que são.

Preenchem espaços e partilham,
coexistem-se no amor.
Ocupam a parte que lhes pertence
levando consigo um pouco de nós.

E o outono desencaminha-nos
entre sorrisos e abraços
que se não dão.
Por exemplo, no outro dia

imaginei – enquanto mijava –
amigos e o espaço que ocupam
no outono, quando a chuva
regressa e nos limita os corpos

criando lugares vagos
na nossa cabeça ou
dentro dos espaços
que a razão nos vaga.

E enquanto mijava pensei nos versos
e na poesia das pessoas
que ocupam espaços
e fazem parte de nós

daquilo que somos ou julgamos ser
dentro das nossas cabeças. Mas as
pessoas ocupam espaços, não o espaço
físico de uma sala de quatro paredes

mas antes os espaços que partilhamos
na nossa memória:
o espaço que dispomos
dentro da nossa cabeça ou coração.

É assim que os poemas se compõem 
com este vagar de aranha
entre nós que se atam à vida  
como a gente que se enreda por nós.

E é assim que os espaços se preenchem
nas nossas cabeças como se a voz
que trazemos por dentro
fosse um reflexo da nossa loucura

um espaço aberto e coberto de amor 
entre outros espaços, prontos a partilhar.