AGOSTO 2010

cafésolo

sábado, 14 de abril de 2018



EN-VE-LHE-"SER"


Envelheces devagar,
por entre as tuas rugas 
e todas as tuas heranças,
manias de perseguição,
teimosias e cabelos brancos,
num rumo cada vez mais perdido:
no tempo ou no sentido, ou até mesmo, 
porque não, no momento certo para arriscar.
Agora, que já não arriscas mais
do que cair de costas na cama,
no atacar ao sentido dos cordões
de uma vida que, vista deste ângulo,
mais parece ter sido, toda ela,
um perfeito falhanço, digo:
só o açúcar que trazes da infância
revela o maior amor de todos,
desde sempre e para sempre –  
presente por tudo quanto és 
porque de resto, tudo se poderá resumir 
à pólvora seca de um alvo falhado 
por essas caravanas sem sorte 
nem amor ambulante para dar  
há mais de cem anos.

E o que seria de nós sem a poesia,
sem podermos voar no mesmo sentido
dos versos sinuosos que a voz nos traz?


(mpc, inédito, 4/2018)