AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

«RESET»



Tão de repente passou o ano.
Hoje é quase um tudo ou nada,
uma espécie de «reset» ainda que
imaginado apenas e só em nós,

mais veloz que todo o vasto sal
de emoções azuis
que se nos atravessaram.
Seguimos crescendo
em torno dos meses
mais quentes e frios,

observamos o tanto ou nada
que nos rodeia mas que tanto
nos parece suplicar, existir em nós.
Fazemos um género de balancete,

tomamos como criveis
as nossas forças e desejos,
seguimos, vamos até ao fundo,
ao limite do que julgamos ser.
Aí encontramos talvez
a verdadeira razão ao acaso
do nosso existir.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

AMANHÃ



Encontrava-me com eles a cada manhã,
de quando em vez ou sempre
que me chamavam desde a rua.
Os dias pareciam cópias uns dos outros
uma espécie de condição parvamente
«alcalóide» minha.
As réstias da cinza que considerava perdidas
por entre os nicotínicos cinzeiros
estavam espalhadas afinal
pelos quatro cantos casa.
Conseguia observa-las
desde os seus pequenos voos perceptíveis
apenas de encontro à luz
de uma outra estranha amizade
que inexplicavelmente me envolvia.
Eu sabia que amanhã cedo
haveria de voltar a ir ao encontro
do lado de fora da casa.
Voltar à rua onde tudo acontecia de rompante
e passava a direito todo o resto quimérico daqui.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL & BOM ANO NOVO!



Natal é:
família, calor, lareira, saúde, paz, abraços
e beijos, gritos felizes e olhares radiantes das crianças,
enquanto rasgam freneticamente os papeis
que esconderam seus presentes

em tamanhos dias ansiados...

Quero desejar a todos os meus "seguidores",

leitores e amigos, um Feliz Natal
e um excelente ano de 2010,
junto daqueles que mais amam.

Até breve.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

VÉU NEGRO



Envolta num longo véu negro,
trás aquela mulher
seus desejos expressos
numa face que quase parece
sorrir, aberta ao mundo.
Desfaz-se depois num pranto a sós,
dominada pelas suas angústias e medos.
Transporta consigo a cruz
duma expressão crua,
que se perpetuada
em seus secretos anseios;
só a outra mão vinda
de fora da fotografia
poderá resgatá-la,
trazê-la de volta ao caminho,
do seu próprio aconchego.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

«AXIOMA DAS FOLHAS»



O sentido era agora positivamente claro e, o mais
simples possível, disposto diante dos meus olhos:
seguir os sinais de uma espécie de chamamento
que parecia óbvio, onde tudo se inclinava afinal,

para seguir um emaranhado de diligências
deste mesmo caminho; pude lê-lo nos sinais
emanados pelo orvalho das folhas caídas,
entre as pedras da calçada levemente molhada

pela ténue passagem da chuva; pude vê-lo
no baço cinza de certa gente que por mim
se cruzava sem rosto. Nada mais me prendia ali,
dava-me conta duma espécie de reacção obrigatória

para soltar as amarras desse olhar distante.
Tudo se preparava afinal, para que o princípio
metamorfósico algures iniciado se materializasse
depois no poema. Neste «axioma das folhas»

tão intuitivo afinal, que desejo cumprir
integral, sem palpites ou rodeios.

domingo, 20 de dezembro de 2009

DEZEMBRO



Naquela caixa escondida no pó
de uma divisão desvestida,
guardava os seus segredos,
seu vacilo de múltiplas aventuras,

misturadas com vaidades e medos,
de uma vida longa mas só.
Sob um frio branco de Dezembro,
ali se deixou tocar pelo calor
que respirava entre os dedos.

Abriu-se depois alva como as réstias
dum gelo doutras eras, desembargando
devagar. Tornou-se mais clara que os fios
de água que fluíram per si abundantes.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

ESSA HISTÓRIA



Queria escrever essa história
das motivações diferentes,
das oportunidades diferentes
e perdidas em gestões diferentes.
A vida, como que encarada
nessa mesma história,
aquela em que cada um vai
ou pode ir escrevendo,
em cada dia,
em cada momento vivo.
Essa história poderia então
olhar-te no rosto,
desde o cimo
da sua própria astúcia,
mesmo que fosse
a mais ordinária
de todas as histórias
e não tivesse
ponta por onde se esvair,
por onde respirar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O SABOR DO SANGUE


(foto by: jose dionisio ruivo neca)

Há ruídos estranhos no prédio, o vento da janela
dos cigarros corta como pequenas lâminas frias,
rasantes a uma barba de 3 dias. Ocorre-te,
simplesmente que o inverno não tarda,
assim como a ceia em reunião de família,

que se promove habitualmente num propicio Dezembro
(e assim é, desde o tempo em que te lembras de ser.
Há uma pedra pequena [mais pequena do que uma brita,
que resvala de um asfalto novo «a estrear»] que saltitou
umas três vezes nas minhas costas, lá atrás, na janela
____________________________[aberta dos cigarros.

Continuam a ouvir-se uma espécie de batuque,
provavelmente misturado entre paus e estendais soltos no prédio,
embrulhados em sombras e sons frios, como o vento de Macedo).
Recordo o quanto me faz falta esse velho e conhecido frio
________________________________________[de Macedo,
como o simples pisar daquelas ruas ou o mero tropeçar
nas sombras, de uma casa que sempre nos acolhe.

O inverno respira ali, há lareira e outros engenhos
mecânicos que sopram lume, digo: calor.
O calor que encontro nos pedaços do meu sangue,
que são um velho e simultâneo doce sabor,
um melancólico sangue, como um cálice
de porto velho caseiro saboreado
em cada volver genuíno a casa.

Depois, regressas a ti e à tua vida
que volta num poema
que agora se cinge
ao seu próprio remir,
em troca de presentes e sorrisos,
_________________esperados.

domingo, 13 de dezembro de 2009

IMEDIATO INSTANTE



O futuro existe e respira em nós,
no imediato instante alcançado
agora, no exacto momento
que atravessamos ligeiro «quiçá»

casual, aleatório mas imediato,
transformado no instante, no rasto
de fumo e fogo, antes espesso
mas que agora definha no tempo

particípio passado. Foge desnudado
ao lobrigo dos olhos, que rasgam
adiante, numa busca repentina
dessa história, que se vê tatuada
________________________[em nós,

ou mais simples ainda, que se entrega
às mãos de um esquecimento vil
e se arrasta no tempo que tomba
a cada recomeço inscrito em cada
_______________________ [imediato instante.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

OUTROS OLHOS



Tantas palavras ficam presas por entre os dedos
e se arrastam connosco quase penosamente,
durante décadas, para mais tarde emergirem
como objectos plásticos mergulhados em nós.

Erguem-se envoltas duma ânsia e desejos
dominando as réstias de uma ténue sombra
automática descrita num vício de inflexões verbais.
É certo, não há milagres nem magias negras

que possam tombar tamanha força,
não há tempo nem focagens desatentas
para os desvios ou desatenções
desaproveitas que de nós não nascem.

Centramo-nos portanto por dentro e,
desde o interior do peito, visionamos essas
marionetas envoltas nessas cortinas de fumo,
de uma conjugação de esforços que teima

em desajustar um todo complexo
centro nevrálgico de palpitações.
«Também já fui desse tempo»,
um tempo em que os outros tiveram

oportunidades de (tentar) “zelar” pelos
meus interesses, angústias, ambições
e até pelos meus desaires. Sim, sei hoje
chegaram sempre tarde, tão tarde que,

hoje mesmo digo:
«não me permito subjugar
nas limitações
dos vossos olhos.»

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

BLOCO DE NOTAS



Às vezes é assim:

Repouso occipital sobre almofadas,
a cama apresenta-se fria
ainda mais, estranhamente,
sob o cotovelo esquerdo,

às escuras acho o marcador do livro
completo, em instantes precedentes.
O meu bloco de notas (Finlandês),
ilumina algumas palavras que jubilam

por serem escolhidas, é tarde,
a noite molhada acompanha o vento
que canta e empertiga as persianas
[fatigadas por empurrões e abanões,

e eu, relato e repito gestos
de quem sabe que é tarde,
desligo o bloco e acomodo-me
para dormir ___ até acordar.

sábado, 5 de dezembro de 2009

VOLTA



Ouro bandido
despertar do sal
e desespero das pálpebras
lençol que trava o ímpeto
das lágrimas escondidas
e uma luz
que se ata noutras
centelhas idas.
Morde-te o desejo
o quadro ainda quente
que bafeja em ti
diante de um cobertor só
respira agonizante
o amargo da boca
por palavras despidas no medo
na volta das virgulas
[mais pausadas
como o espelho-de-Vénus
simboliza
o teu género
___________feminino.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

DADOS NO ACASO



Ataquei a raiz do medo, essa mesma
que antes me sepultava, paralisava
como um sopro brando imperceptível
de um carbónico ar, que se perpetrava
numa decomposição lenta
mas sofrida pelos meus anseios.

As horas, madrugadas a fio,
valiam tanto como as sombras
dos meus dedos ecoadas no teu rosto.
Sabiam o caminho a percorrer,
porque era o instinto quem ditava o rasto
dum gosto, que não se apagava instantâneo.

Combinávamos olhares, como se as décadas
simbióticas existissem, como se a álgebra
deixasse de ser um mero raciocínio puro
e passa-se a ser uma qualquer fila de supermercado
sem gente, uma praia sem mar nem a areia salgada
[pelas ondas.

Ataquei sem medos
a espessura do juízo,
a falácia errante da mente,
o grito ofegante do erro,
e escolhi o instinto dos dados
lançados no acaso.