AGOSTO 2010

cafésolo

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

#o teu sorriso




                                            

Eu procurei avisar-te, mulher:

para a inexistência da perfeição; 
ou por outra:
que ela existe sim, na mesma medida
em que a beleza das coisas existe e vive
efémera, como um ciclo que dura
para além de toda e qualquer ilusão.

E que apesar de tudo não nos perfura
a alma como os punhais da desilusão.

Sucederam-se os meses
(a que chamamos passado)
e de cada vez que te escondias
entre a espessura dos dias 
encontravas o remate perfeito
na «simetria» do poema.

E a perfeição não existe,
ou por outra:
apenas o teu sorriso existe,
como um embalo que eterniza

                         [a métrica do amor.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

#insónia















Irrompi pela insensibilidade
dos sentidos, por essa abrupta
mancha chamada insónia.  

Pairava na minha cabeça
uma espécie de agonia
desvairada como um vírus:

Eu era um fiel guardador
de navios. Sim, essa ideia
desvairada ressoava pelas

paredes urbanas dos prédios, 
como a agitação do vento abalava 
a loucura do mar pelas janelas.

Lá fora toda a madrugada 
ardia dentro da inércia 
fria dos objectos. Parecia

vigiar-nos numa relação im–
provável de sentimentos. Ardia 
num todo desassossego aceso

pelos archotes antigos – da nossa 
existência. Como uma espécie 
de relação de ausências quiçá
                                                            
                           [perpetuada
     
pela firmeza do esquecimento.