AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 28 de junho de 2012

28-03-2012




















                                                 para o meu irmão Mário.




Não fica fácil deixar os nossos para trás.
Uns sobre outros detêm-se na firmeza 
de uma data. Um estranho cômputo
por onde vamos perdendo o balanço.
Levam consigo um pouco de nós, 
uma espécie de memória viva
que comporta o vazio que nos resta.
Retalham-nos – a sangue frio – a parte
que deles nos pertence, sem qualquer tipo
de aviso prévio ou direito a reclamação.

Depois seguimos, fingindo nada ter acontecido.
Como se fosse possível omitir a amputação
de um membro, de um órgão ou de um coração.
A verdade é que não resta fácil a tua ausência.
Lá fora, há um todo abril que chora angustiado,

talvez, paradoxo pareça, por teres obtido
[finalmente?] a paz que sempre ansiaste?
A liberdade que sempre perseguiste?
Ou a vida a que te impuseste?

Agora Mário, pouco importa saber.  
Deixa que se exalte – nem que seja
apenas por hoje – o egoísmo a quem fica, 
e que esse espólio que nos deixas possa viver 
para sempre, nas imagens que ficam 
neste destino sem nome, nesta ferida
                                                           [sem cura.