AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 28 de junho de 2012

28-03-2012




















                                                 para o meu irmão Mário.




Não fica fácil deixar os nossos para trás.
Uns sobre outros detêm-se na firmeza 
de uma data. Um estranho cômputo
por onde vamos perdendo o balanço.
Levam consigo um pouco de nós, 
uma espécie de memória viva
que comporta o vazio que nos resta.
Retalham-nos – a sangue frio – a parte
que deles nos pertence, sem qualquer tipo
de aviso prévio ou direito a reclamação.

Depois seguimos, fingindo nada ter acontecido.
Como se fosse possível omitir a amputação
de um membro, de um órgão ou de um coração.
A verdade é que não resta fácil a tua ausência.
Lá fora, há um todo abril que chora angustiado,

talvez, paradoxo pareça, por teres obtido
[finalmente?] a paz que sempre ansiaste?
A liberdade que sempre perseguiste?
Ou a vida a que te impuseste?

Agora Mário, pouco importa saber.  
Deixa que se exalte – nem que seja
apenas por hoje – o egoísmo a quem fica, 
e que esse espólio que nos deixas possa viver 
para sempre, nas imagens que ficam 
neste destino sem nome, nesta ferida
                                                           [sem cura.


8 comentários:

  1. Feridas sem cura, silenciadas numa dor de saudade de ponto final. Que o privilégio da história que temos no tempo comum, seja horizonte de vida sem fim. Xi com o mesmo sentir<3

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  2. Entendo o que escreves, sinto o que escreves, choro e rio-me com o que escreves.
    Podia ser eu a escrever isto só me falta ser genial como tu!
    Um beijo
    Xana

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  3. Lamento a tua perda e compreendo um pouco a tua dor, Miguel. Quando alguém querido parte, ficamos com a dor, mas ficamos também com lembranças boas - é a estas que devemos agarrar-nos para atenuarmos um pouco o que sentimos.

    Um abraço.

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  4. Miguel: Há muito tempo que já não venho aqui. Basta invocar, como razão, a dispersão que nos consome. E hoje, que aqui resolvi parar, defronto-me com este doloroso poema. Já não é o poema que interessa. É a sua dor e o seu luto. Um abraço.
    Alexandre de Castro

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  5. Obrigado, Alexandre e restantes leitores e amigos!

    Um abraço

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  6. Leio as tuas palavras, é relembro o passado.... Quando falas em paz e liberdade, sei na verdade porque o dizes porque o conheci bem.
    Estava a ler e a lembrar o dia que os três fomos ver os Xutos a Bragança, que não vimos.. Tantos e tantos momentos.
    Um abraço Miguel

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  7. Um abraço, amigo!
    Obrigado pelas tuas palavras.

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