AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

OUTROS OLHOS



Tantas palavras ficam presas por entre os dedos
e se arrastam connosco quase penosamente,
durante décadas, para mais tarde emergirem
como objectos plásticos mergulhados em nós.

Erguem-se envoltas duma ânsia e desejos
dominando as réstias de uma ténue sombra
automática descrita num vício de inflexões verbais.
É certo, não há milagres nem magias negras

que possam tombar tamanha força,
não há tempo nem focagens desatentas
para os desvios ou desatenções
desaproveitas que de nós não nascem.

Centramo-nos portanto por dentro e,
desde o interior do peito, visionamos essas
marionetas envoltas nessas cortinas de fumo,
de uma conjugação de esforços que teima

em desajustar um todo complexo
centro nevrálgico de palpitações.
«Também já fui desse tempo»,
um tempo em que os outros tiveram

oportunidades de (tentar) “zelar” pelos
meus interesses, angústias, ambições
e até pelos meus desaires. Sim, sei hoje
chegaram sempre tarde, tão tarde que,

hoje mesmo digo:
«não me permito subjugar
nas limitações
dos vossos olhos.»

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