AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Hoje não vos venho falar de amor





Hoje não vos venho falar de amor.
Não consigo falar de um tempo que desliza
ao contrário. Tenho dificuldade em olhar
para trás. Tenho dificuldade em dizer
o quanto fui brusco fugindo de ti.

Poder-se-ia dizer que tivemos (quase) tudo:
- um futuro, uma estrada: a alegria das coisas
simples. Mas havia já um novelo deslaçado a dois
tempos, nas paredes arrítmicas do coração.

Depois calamos a revolta no vazio das palavras,
perdemos o balanço, morremos na rotina. Fomos
até ao cabo do medo, atravessamos a espessura
de dez invernos e chegamos até ao fim de nós.

Não conseguimos atravessar a densidade
do cimento (que fomos construindo), junto
à estrutura assimétrica da indiferença;
E fomos indo no adeus, até ao fim do mundo,
______________________    [até ao fim do amor.

6 comentários:

  1. Ainda bem que o coração é um músculo que se regenera por si...

    Beijinho, Miguel

    (talvez tenhas chegado ao fim porque tu mudaste... )

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  2. EROS

    Nunca o verão se demorara
    assim nos lábios
    e na água
    - como podíamos morrer,
    tão próximos
    e nus e inocentes?

    (Eugénio de Andrade - MAR DE SETEMBRO)

    ___________________

    O "fim" é sempre ou quase sempre figurativo.
    Os ciclos fecham-se-nos como o inverno, e nós avançamos para novos ciclos, novos amores, até que nos seja permitido respirar...

    Beijinho Virgínia.

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  3. Sei bem como vim dar aqui, não sei é como vou sair já.

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  4. Não precisa de sair já! Vá voltando Sun lou Miou!
    Também já visitei seus blogs... e gostei! :)

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  5. Com um novelo delicado, no tear do coração, vai-se tecendo fio a fio, o produto do nosso trabalho vai sendo cada vez mais visível e sem darmos conta já estamos de tal maneira presos ao pedaço de tapete que fomos construindo. A cada movimento do tear o amor vai tornando-se cada vez mais sólido. Nada permanece eterno e o novelo de fio que escolhemos nem sempre é suficientemente resistente e quebra. Com algum esforço unimos as duas pontas do fio e retomamos o que começamos, mas não é mesma coisa, mais cedo ou mais tarde o fio quebra-se de novo e o novelo vai-se ensarilhando e a impossibilidade de encontramos a ponta quebrada está cada vez mais visível. Tão Perto de um belo futuro, de uma estrada, da alegria da simplicidade, perdemos aquele novelo. O tear permanece agora imóvel e repleto de um vazio inexplicável.
    Recorremos de novo ao tear. Com angústia e dor a pouco a pouco, fio a fio, vamos desmanchando tudo o que construímos. Tudo se apagou. Mas com o tempo, aquele tempo que tudo cura, faz-nos de novo encontrar uma meada, que depois de dobada, será de novo c tecida delicadamente, e um novo amor surgirá.
    Abri o dicionário e, entre as milhares de palavras procurei o significado da palavra Amor – sentimento que impele para o objecto dos nossos desejos, objectos da nossa afeição, afecto, paixão. Como parece tão simples de descodificar e interpretar esta definição, mas na prática, como é difícil de lidar com este sentimento. Como causa dor, sofrimento e deixa um rasto negro no coração de todos aqueles que por ele sofrem. De Amor, não sei falar, apenas de paixão, de mera ilusão; mas a paixão deliu-se com o tempo, apenas o amor pode permanecer eterno.

    Bjs Miguel

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  6. O fim é quase sempre o que há de mais certo.

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