AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

«travelling light»













Foto: Samuel Fidalgo


Gosto, do preciso momento
ou nem tanto, dessa espécie
de partida para o desconhecido,
a servidão ao defeito, o corpo
mergulhado no vício, uma espécie
de embriaguez aos actos.
Às vezes fica tarde.

Ninguém entra no comboio
sem que deseje a viagem,
desconhecendo o destino
o esplendor verde da partida.
Fica tarde não o perceber.
É demasiado tarde para insistir
em pormenores menores,

desacertos incertos, coisas de partir.
Leva-se na bagagem a companhia certa
todo o resto: simplesmente acontece!
(Como terá acontecer, dir-se-à.)
Às vezes fica tarde para desmontar
o destempo daquilo que se não vê.
Mas gosto! Sobretudo dessa ida

ao encontro dessa certeza
de seres tu meu (re)partir,
ou antes: meu partilhar.

2 comentários:

  1. Como é habitual uma poesia que nos vem deliciando sempre com aquele toque subtil de sentimento e memória.

    Se me é permitido completar o muito que já aqui escreveu, deixo isto:

    "Chegamos ao fim do caminho, o comboio vai comendo as últimas lascas de carvão." Mas essa certeza permanece, a certeza/de seres tu meu (re)partir,/ou antes: o meu partilhar.

    Abraço,
    Ricardo Cunha (Cronópios e Famas)

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  2. Obrigado pelo seu excelente comentário!
    Sentimo-nos pequenos com tamanhas observações...

    Um grande Abraço
    e muito obrigado, Ricardo!

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