AGOSTO 2010

cafésolo

domingo, 28 de novembro de 2010

recurso




















Venho por este meio recorrer
ao âmbito natural das coisas.
Ao sentimento frio que nos recomeça
nocturno, desde o vazio da noite – nas ruas.
Um ou outro sorriso que gastamos
junto ao balcão de um bar
ou noutro cenário qualquer.

E nunca é tarde demais 
para distrair o medo, 
uma mesma direcção, 
uma mesma partilha 
a que chamamos: 
ânsia ou modo vida.

É urgente ditarmos as regras 
ao desalinho, é urgente cobrar 
às palavras uma ordem natural 
das coisas. Aceita-las como se fossem
só nossas, como se fossem a nódoa ou borrão 
de tinta no nosso papel, um recurso 
que recorre desta breve passagem.

Venho pois por este meio recorrer
   – nesta folha azul de 25 linhas – 
à jurisprudência que em boa verdade 
não existe. Ao reconhecimento 
que não procuro, diria mesmo que: 
procuro o consentimento que existe
entre o lume cruzado dos teus olhos.

Recorro pois deste limite cortante
que nos [de]fere a cada momento.
Ao esquecimento que se apaga junto
ao vazio de um copo, ao abandono
lento que nos sobra – neste recurso
perpetrado – junto à lisura do balcão.

6 comentários:

  1. venho por este meio dizer que adorei este poema...
    tina)

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  2. Exmo. Sr...

    Venho pelo presente meio informar V.Exa, que o "recurso", referente ao poema acima descrito, foi aceite sem quaisquer reservas....
    Estes barbituricos, fazem-me bem á alma....
    Obrigada Miguel... Gostei muito
    Beijinho
    Lurdes Meirinho

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  3. Miguel:
    O seu poema é lindíssimo. Recorreu com habilidade à banalidade do acto oficioso usado na administração pública, para se dirigir ao leitor, a fim de lhe confessar as suas lamentações do cruzamento da vida com o seu destino.E até uma leitora, a Lurdes Meirinho, representando-nos a todos,e com uma imaginação, que não destoa da que ressalta do poema/requerimento, veio publicamente proferir o despacho do respectivo deferimento. Eu limito-me, humildemente, a assinar por baixo. Parabéns.
    Alexandre de Castro

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  4. ...Talvez nos caiba ir recorrendo das sentenças da vida que não aceitamos... talvez isso seja evoluir!...

    Beijinho, primo! grata pela tua poesia e por todas as restantes palavras! :)

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  5. Muito simpáticos os vossos comentários, os quais agradeço (Tina, Lurdes, Maria, Alexandre e Virgínia) com beijos e abraços! Obrigado.

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