AGOSTO 2010

cafésolo

terça-feira, 21 de julho de 2009

HOJE À TARDE, FOI ASSIM



No ar reina o pó que se respira das lojas,
invade sem premissa nem piedade os transeuntes
que se passeiam de semblantes carregados.
Em cada rosto há um poema que deseja ser
declamado, com a dignidade deprimente da morte.

Os artigos estão quase desprovidos do brilho
que outrora os colocou na ribalta da montra,
na primeira linha de fogo das prateleiras
essa mesma à qual voltaram. Encontram-se prostrados,
mas ressuscitados dessa passagem longa e fria
pelo porão escuro e tenebroso,
a que vulgarmente chamam de armazém.

Sente-se esse odor esbatido do mofo,
no ar rarefeito que respiras, as pessoas
preferem fingir que não dão conta,
preferem continuar nas suas vidas,
alimentadas em revistas,
preenchidas em novelas onde projectam
a sua existência nos braços ardilosos
de um qualquer galã, um amor fraude,
à noitinha depois do jantar.

É tão bom sair à tarde, sem ter nada de especial
para fazer e perder tempo a observar que vai e vem
género formiga no caos da cidade.

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1 comentário:

  1. Quem diria que esse cheiro a mofo tão característico da época de saldos te serviria de inspiração! Adorei! Eheheh

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