
Apanhas o metro sem saberes ainda em que estação vais sair,
sem saberes igualmente se consegues
seguir este percurso até ao final do troço.
Foges dessa angústia que acaba de te esventrar,
a incisão milimétrica desse bisturi chamado amor.
Cais em ti sem piedade, culpas-te desta espécie de saga
que te tem perseguido, como a tua própria sombra.
Olhas para a realidade que te acompanha desde sempre
e hoje, apenas hoje, não consegues ver nada à tua volta,
tudo é baço e inconsolavelmente triste, apesar do dia de sol,
que de fora da carruagem brilha.
Há pessoas que te observam como que, por piedade,
e tu, não consegues fazer o disfarce desse
turbilhão de ideias que te trespassam.
Sabes que não existem maquilhagens possíveis
que escondam esses sentimentos.
Tentas uma e outra vez rever o filme,
ecoam em ti, essas últimas palavras
proferidas por esse “tipo”
a quem julgas estar amarrada de amor.
Nada e ninguém conseguirá demover
essa ideia deste ter sido o último episódio,
o derradeiro encontro o desfecho e estucada final
dessa novela triste que se arrastava sem nexo.
Sais na próxima estação.
Decides caminhar um pouco pelas ruas da cidade
na tentativa de aclarar ideias, a vida não está fácil para ti,
alguém em casa perdeu o emprego,
a tua avó está prestes a dar as últimas braçadas
neste oceano que é a vida, e tu,
sentes-te incomensuravelmente só.
Num banco de um jardim público
ao final da tarde, despertas uma brisa que agora percorre
os teus cabelos longos ligeiramente ondulados e muito negros,
começas a reagir lentamente,
submergindo desse lodo que te envolve e domina a existência...
Queres reagir, precisas recompor-te
do abalo sísmico que te apanhou
de costas voltadas.
Bastaram apenas quatro meses, mudas radicalmente,
viras a página e podes agora observar mundo,
notas que afinal os teus cabelos longos e escuros
são como um chamariz, que joga a teu favor.
A tua avó já “foi”, vítima de um tumor que a castigava
há alguns anos.
O ambiente em casa é agora desanuviado,
apesar de tudo e todos continuarem iguais a si próprios,
tens agora um novo alento
causado por esse entusiasmante fenómeno
a que chamamos de paixão.
Nada poderá atestar que esta será
finalmente "aquela" escolha... Aceitas, mais uma vez
esse vago risco que já se aflora e sente na tua pele...
Beija-te uma nova motivação com que respiras
e reaprendes a sobreviver…
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