AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

caiu a noite
















"Caiu a noite. E sopra um vento fino.
E não é já assombro 
assombro tal?"
                                               Ana Luísa Amaral 


Caiu a noite e “Próspero morreu” é tudo
quanto sabemos ao avistarmo-nos.
À sua morte há uma ordem que se finda
mas falta saber como – enquanto cigarros
se esfumam apressados – à porta e à hora
marcadas. Uma sala – decorada a livros –
é o nosso cenário. Na Ilha, Ariel anuncia
a desgraça como se fosse: o nosso último cicerone.
O abismo e a tempestade, o labirinto e Teseu,  
Ariadne e a pretidão de amor de Bárbara
[contada a preceito pela escravidão de Luiz].
Mas há outras vozes reais de outra gente real
que nos faz perder no tempo. Seguro a pauta
e perco o pé – duas vezes – sem o sangue
que ainda bate no coração frio de Caliban.
Transmites-me paz. Sabias?
Mas Próspero morreu e é tudo quanto sabemos,
e há outros amores e desventuras por contar
[o acto da peça que mais desconhecemos].
E há uma nova ordem {afinal} que parece advir dali,
sem perder mais o pé ou o equilíbrio:
Ariel regressa-nos, encerrando no pano
aquela voz: tão feminina e tão presente,
tão suave e tão.

2 comentários:

  1. Vou abrir as hostes:
    Um misto de personagens e humanos, de mito e realidade, de presente e futuro, numa ilha entre Caliban e Próspero... Texto inteligente!

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  2. Obrigado pela tua análise Patrícia, parece-me muito bem conseguida! :)

    Beijo

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