AGOSTO 2010

cafésolo

domingo, 29 de maio de 2011

trazes um rumor






















Trazes um rumor escondido entre os lábios. 
As palavras ocultas, arrumadas pelo medo  
inerte do espaço. Objectos desorientados 
pela mesma desrazão dos dias, os olhos 
fechados nas sombras dos objectos. Trazes:
um cheiro de amor, um aroma doce de rosas
silvestres e um vestido (que vejo claramente),
como uma espécie de poluição entre a cor e o
aroma campestre de um corpo suado por dentro.
Espalhava-se como um rumor de amor esse teu
vestido, desde o alto dos muros até ao alto dos
sorrisos abertos como flores emprestadas de boca
em boca. Uma espécie de rumor espalhado pela
força dos dedos, a marca profunda dos anéis.

                E agora que regressas, trazes murmúrios:

um rumor frio que esmagas entre os dentes e as águas
profundas do teu pensamento. Um eco calado na boca
como a alta saliva seca pela surdez muda das palavras­.
Uma porta aberta para um abismo que trazes por dentro.
Um alto mar revolto por nada, ou um todo sal que ficará

                                                      [sempre  por dizer.

5 comentários:

  1. Brutal o ritmo, a cadência das palavras. Transmite uma espécie de equilíbrio que se desmorona no fim... as palavras que vão caindo como chuva por cada verso, por cada estrofe!

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  2. Faço minhas algumas palavras do "anónimo". Parabéns pela força das palavras e dos sentimentos. :)

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  3. Um grande poema, Miguel. Talvez o melhor dos seus poemas, daqueles que li. Arranca um mundo telúrico das palavras e transmite algo de épico à eloquência do amor.É, sem dúvida, um poema de antologia.
    Um abraço
    Alexandre

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  4. Tão intenso, Miguel. E tão belo. Dói, de tão belo.

    Um terno beijinho, primo :)

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