AGOSTO 2010

cafésolo

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

UM HOMEM SÓ



Um homem de meia idade treme,
tem na mão, o papel, o argumento
ou a escapatória daquilo que o trás por ali.

Esconde as palavras que parecem
dissimular-se por detrás dum bigode
nervoso. O olhar foge-lhe para a mão

onde transporta a sua arma de caligrafia
urgente, vem assinada por alguém
que lhe reconhece certamente os passos

e as angústias, obstáculos de toda uma vida
que deixou de lhe despertar o interesse.
«Eu quero cumprir!»

Repete ele a custo, numa espécie de discurso
com que engana a sua própria existência.
O destinatário do recado finge acreditar

na sua encenação.
O homem bate em rápida retirada
prometendo regressar com brevidade,

mas só ele sabe, o quanto quer fugir dali,
o quanto é amarga a figura que representa
neste cilíndrico mundo cruel, que o esmaga,

sem contemplações.

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