AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 29 de julho de 2010

aritmético



Calcula como as minhas
janelas se fecham ao verão
e à vida que corre lá fora.
Calcula como me escondo
sem rosto, como este desa-
ssossego branco me in-

quieta, neste meu (in)feliz
anonimato. Calcula ainda
a minha dignidade, fora
das praças e jardins, nos
demais pisos e paredes
que não vejo à luz do dia.

Vou coleccionando livros,
guardo-os debaixo da cama
junto ao cotão, no frenesim
das aranhas. Registo deles
também um pouco de mim,
a cada poema que escrevo.

Calcula-me um pouco agastado
por tudo; mas não o lamentes,
não lamentes quem escreve
sobre as janelas contidas
pelos jardins monocromáticos
vistos apenas pelo lado mais

seguro da noite. Calcula-me
escasso, pela ausência de
alma que promovo em mim.
Vê o que as palavras te querem
dizer e não as tomes como tuas;
calcula-as apenas como a um

desabafo que não faço a mais
ninguém. Considera que me
procuro em cada verso (sem
sentido), que me revejo em
cada linha que escrevo sem
pudor. Percebe esta minha

não-presença (in)feliz, porque
a desejo, não tanto quanto
o silêncio que me envolve.
Deduz por fim, como o meu
todo se resume ao mero
cálculo aritmético, encerrado

________[e simétrico, ao poema.

9 comentários:

  1. Miguel, na minha humílima opinião, este poema está muito bom. Revela maturidade, pessoal e no manejo da palavra. Parabéns, poeta.

    Bom fim-de-semana. :)

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  2. Obrigado pelas tuas palavras de incentivo deep!

    Bom fim de semana.

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  3. Muito fluído e seguro... também gostei!

    Bjos

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  4. Obrigado Virgínia!
    Também gosto de te ver por aqui!

    Beijo

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  5. Calculamos constantemente cada minuto e avanço que damos na vida,
    Calculamos a cada minuto quem somos, donde vimos e para onde vamos.
    Percebemos então que a vida é curta e constantemente calculada, por isso nada deve ficar por fazer ou dizer.
    Abre as janelas, deixa que o sol de este ou outro Verão, aqueça teu leito,
    Olha de frente o Sol, não te escondas na penumbra da noite, nem na força das palavras que escreves em cada poema teu.
    Deixa trespassar a luz e observa o colorido dos jardins, não lhes confiras apenas o negro da noite.
    Não te resumas ao silêncio que te encerra na sela dos sentimentos.
    Não resumas teu ser a um mero cálculo aritmético.
    Um erro, um simples erro de cálculo pode levar-nos a perder tudo aquilo que na verdade somos.

    Muito interessante este poema.
    Beijinhos Miguel

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  6. Uau! Love this one!
    kisskat

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  7. Isabel beijinho e obrigado, já agora boas férias também :)

    __________________________________


    Katuxa, uma beijoca "gorda!" :D
    Vai aparecendo por cá!

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  8. Ainda bem que gostaste Rosane!

    Welcome a board! :)

    Beijos

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