AGOSTO 2010

cafésolo

segunda-feira, 1 de março de 2010

O FIM DO INVERNO



Olhava pela janela daquele quarto
num ar destemperado. Limitava-se a esperar
que as horas passassem a ser o fim da tarde,
onde ele se enrolava num charro verde,
agora sem a saliva dos dezasseis anos.
Aquele sabor misturava-se depois
com os ramos das árvores,
que pareciam direccionar-se
em estranhos gestos de louvor derramados
nas lágrimas que se curvavam sob os céus.
Inventara outros cenários daquelas tardes
semi-primaveris, descobrira-se a si mesmo
e a um tempo onde urgia alcançar
o acre sabor tinto, escondido no ventre
tanino de um vinho maduro. Depois, percorreu as largas
páginas doutros livros improváveis,
que mais tarde chegaria a entender.
A música que tocava, retumbava de um velho
e rudimentar leitor de k7’s,
que hoje nem sequer existe,
mas as k7’s essas, combinavam nele
como uma luva assenta na exacta medida
do frio entre os dedos.
O tempo passava irremediavelmente devagar
naquelas horas, àqueles olhos,
uma tamanha instantaneidade,
só hoje possível observar.

3 comentários:

  1. Um belo texto, interessei-me pela combinação entre palavra e imagem! Parabéns!

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  2. O Inverno ainda não teve o seu final... Mas fica mais suave com a suavidade de algumas leituras...

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