AGOSTO 2010

cafésolo

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

por estes dias longos

 



E cantar era conceber uma estrela,  
um testemunho da mais alta loucura

Herberto Helder


Sigo o relento destes dias longos
tão distantes do alcance dos dedos
como o medo puro das rosáceas
cravadas por instantes na carne.

Intermitências de um sol que se afasta
desta máquina clandestina e cantante 
como uma espécie de fé que se aninha
entre a loucura e a prudência da solidão.

Estamos sós, estancamos nossos medos
por cantigas antigas, de outros tempos,
«quiçá» mais felizes ou menos vivos.
Talvez seja o inverno que nos tarda;

Um medo frio de quem canta sem razão
ou motivo aparente, sem ritmo ou amor.
Talvez seja a poesia que nos pronuncia
diante da carne que envelhece sob a pele.

Talvez seja o medo do fim destes dias longos,
esquecidos como colecções antigas que fomos
deixando para trás como a nossa própria idade.
Talvez seja esta a estrada sem cabeça, por onde


impera uma certa loucura de uma certa
cabeça desvairada, desvirtuada do norte,
de um rumo ou plano “b”, que na verdade,
nunca chegou a existir nos escaparates


da nossa memória.

Talvez seja este cantar aturdido
por onde me trago perdido
uma espécie de vazio entre mãos
que se adianta lenta e ternamente do fim.   

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