AGOSTO 2010

cafésolo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

praça [da liberdade]



Havia na casa uma escadaria antiga
e um corrimão feito em madeira
importada da África dos «anos vinte».
Havia alguns cartazes decorativos
(quase revolucionários) e quadros
que pareciam inacabados
ou feios por gestos pouco medidos
apressados
mas solidamente suspensos
nas fortes correntes metálicas
amarradas às paredes
que eram dum estranho exacto
azul cor céu.

A luz perpetrava a velha clarabóia
numa espécie de intimação
dum atento desfoque à vista.
Jogava nas suas reentrâncias e ângulos
de uma forma perspicaz,
conhecedora enfim,
dos seus segredos.
A cada passo dado entoava-se um som agudo,
imediatamente serenado pela velha escadaria.
Era como uma espécie de melodia
que nos recordava outras músicas
de outras andanças.

A porta abriu-se ofegante
e nós entramos de rompante
na velha casa.
Pudemos depois em jeito
de fim de cena, assistir
ao reboliço pintado pelo
cinza tosco que agora passa
nesta praça [da Liberdade].

4 comentários:

  1. Parabéns por mais um dos teus poemas, sempre que tenho tempo leio alguns e deixo a minha opinião.
    Cristina T.

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  2. Bem vinda sejas Cristina, e obrigado pelo "feedback" :)

    Beijos

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  3. Este poema lê-se como se fosse um conto...

    Bjos

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  4. :)
    Há poemas assim, que correm, tipo carreiro de água pela montanha abaixo...

    Beijos

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