
para o meu irmão Mário.
Não
fica fácil deixar os nossos para trás.
Uns
sobre outros detêm-se na firmeza
de uma
data. Um estranho cômputo
por
onde vamos perdendo o balanço.
Levam
consigo um pouco de nós,
uma
espécie de memória viva
que comporta
o vazio que nos resta.
Retalham-nos
– a sangue frio – a parte
que
deles nos pertence, sem qualquer tipo
de
aviso prévio ou direito a reclamação.
Depois
seguimos, fingindo nada ter acontecido.
Como
se fosse possível omitir a amputação
de um
membro, de um órgão ou de um coração.
A
verdade é que não resta fácil a tua ausência.
Lá
fora, há um todo abril que chora angustiado,
talvez,
paradoxo pareça, por teres obtido
[finalmente?]
a paz que sempre ansiaste?
A
liberdade que sempre perseguiste?
Ou a
vida a que te impuseste?
Agora
Mário, pouco importa saber.
Deixa
que se exalte – nem que seja
apenas
por hoje – o egoísmo a quem fica,
e que
esse espólio que nos deixas possa viver
para
sempre, nas imagens que ficam
neste
destino sem nome, nesta ferida
[sem cura.