AGOSTO 2010

cafésolo

quinta-feira, 29 de abril de 2010

SANGUE PLÁSTICO



Rasguei o contrato.
Isso mesmo rasguei-o.
Depois sentei-me e puxei
de um cigarro,
mesmo ciente do «batuque»
acelerado na carótida.
Não era a primeira vez
que me faltava à palavra.

Sentei-me na cadeira do terraço e,
ouvi o negrume
que os olhos negaram ver.
A toalha continuava posta sobre mesa,
misturada num cinzeiro aceso e,
outros pedaços (de civilização?)
de apartamento, como se alguém fosse
irromper pela porta para jantar.

Estava só!
Desde o tempo contratado
por falsas juras de amor
seladas em sangue plástico.
Celebrei como se o medo
fosse enfim, uma equação
igual à junção das partes
que sempre existiram afinal,
eu e a sombra,
daquilo que tu nunca foste.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

RIO "SABOR"



Conheço essas gentes
esses cheiros,
como se as linhas
dessa terra molhada
fossem o odor que se cruza
entre as mãos.

Conheço esse azul no céu
que se estende desapartado
ao mar; baralhado entre
as ondas verdes de uns olhos
de pássaro, que giram e voltam
para se perder diante as vastas
e corpulentas curvas de enormes  
cordilheiras;
ou simplesmente rasgados
por um fixo e exacto corte
na minúcia de um pequeno geio.

Trás-os-Montes é isto:
- verde/vivo
sentido a correr
dentro das veias
ditadas de herdade,
um íntimo e volumoso
rio de saudade e ternura
                        [& amor.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DENTRO DE NÓS



Deixa-me tocar-te até à raiz
dos poros por onde respiras;
deixa que te mostre a minha
colina verde, onde não existem
buzinas ou semáforos;
e outros abundo's males
ordinários que nos engasgam
[metropolitana mente].
Deixa que as gaivotas se ergam
mesmo que desfocadas
por entre os grasnos que se
desatam sobre as nossas asas;
nunca morreríamos nesses
estilhaços de tempo, éramos
como os imortais segundos
sobrevindos mas incólumes
como a cadência perfeita se foi,
bilaminada em nós.

sábado, 10 de abril de 2010

TARDE(S) À VARANDA



Parecia ler-me a mente,
quando me focava frente-a-frente
com os seus grandes e dourados olhos,
e eu, parado, de porta escancarada

[tentava perceber se me seguia de facto,
numa espécie de alusão à telepatia?]
antes de entrar em casa. Ganhava o meu
tempo para escrever, antecipava-me

aos seus próprios intentos de me perseguir
dentro dos meus próprios passos.
Vivíamos uma espécie de loucura
onde o tempo parecia entorpecer lampeiro,

mas na realidade seguia-nos, bem mais de perto,
do que aquilo que poderíamos supor.
Éramos jovens, o sol aquecia-nos as tardes
e levava-nos em mangas de camisa até

que as garrafas escolhidas de tinto
nos aquecessem, sem que déssemos
conta que já havia centenas de estrelas
mergulhadas nos céus.

O Verão era o nosso episódio perfeito,
e continuará a sê-lo [tardes à varanda]
como reconhecerás certamente.