sábado, 7 de novembro de 2009
RARAS ESPÉCIES
foto de: Magda Rosa
Eu, era o único estranho na sala, não se podia fumar,
mal consegui escapar aos abundantes tiques
que me trucidavam no tambor do peito,
mordiam-me os lábios secos, como se os beijos
caíssem roubados, sem sumo, tu continuavas a ser tu,
distribuías conversas como se estivesses no auge de um
bluff na tua mesa de poker, as pessoas olhavam-me,
eu podia sentir aquele palmilhar que me percorria como
humidade entranhada nas paredes finas e frias da consciência.
Era tarde por fim, a música deixou de entrar equilibrada
e nós, saímos juntos mas separados em razões,
oh como éramos jovens nessa altura, de um tempo
em que as faces se rosavam por tudo e por nada, quando
por nada sentíamos um ténue mundo desabar debaixo dos pés,
por entre palavras aguçadas, de um fervor destemperado,
onde o ângulo oblíquo traçado era o ciúme de quem não amava,
mas antes, julgava fechar algo seu, nas sete chaves de um peito
inexperiente, reconhecendo tarde a derrota naquelas batalha
perdida desde o ínicio. Percebi porém, o quanto cresci naquela
sala e, daquela noite percebi também algo que julgo saber hoje:
existem exactos momentos para explorarmos o amor,
distingo-os agora: esse amor «de sofá de trazer por casa»
(que se vive na altura certa) do outro amor,
mais espesso, verdadeiro, raro, dispendioso e matreiro,
que se cultiva como o mais laborioso horto, repleto das mais
raras cores e espécies, que murcham, ao sabor das estações,
às mãos dos mais desatentos e desiquilibrados jardineiros.
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