AGOSTO 2010

cafésolo

sábado, 27 de fevereiro de 2010

AMOR & MALTE



O malte caía estranhamente doce e sem gelo,
por entre um cenário de música,
notícias e uma vela que arde
julgando-se assim purificar o ar
_______________________[ressoado pelo tabaco.

Mas o trago mais, era o foco centrado no copo,
como a palavra ou a acção fulcral de tudo
quanto vês e ouves e depois te envolves.
Esperei pelo temporal, vi a fruta apodrecer

numa fruteira ignorada pelo despropósito
de uma qualquer rotina marginal.
Esperava também pelo fogo do teu corpo,
que depois se entranhava no meu.

Já não havia muitas passas por dar nos cigarros
e o copo vazio, desalojado de ardor,
indicava-nos o percurso, essa busca quiçá infundada,
por esse raro «objecto», réu ou arguido
___________ [a que chamamos de «amor».

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

ONDE QUERES IR?



Onde queres ir?

Qual seria o cenário ideal
que faria os teus olhos sorrir outra vez?
Não sei se entendi a última parte
da prosa que deles li,
e, daqueles últimos instantes
recordo, sim, aquele impulso simétrico
entre a tua pressa de sair do carro
e a enorme precisão dum «check-in»
que te esperava impaciente,
numa «passagem dum querer chegar» onde,

parecia não quereres ir.
Depois regressei a casa,
atrasei-me por algumas horas
noutras bandas,
mas aquele sinal gráfico
que indica interrogação,
ainda hoje se mantém
arreigado num nó
que me moí
junto à garganta.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

CALOR



Começas a ganhar certas manhas na casa,
conheces por fim os cantos às escuras e,
sabes bem, todos os passos que pisas descalço,
sem arrepio. Os automatismos aperfeiçoam-se,
como peças de tecido «persa» assentam
naquelas bandas do «sol nascente»
em cortinados quentes que esvoaçam
melodiosos e doces, como aqueles que vês
num final de tarde

________________pulverizado em gin tónico,
calor e chinelos-de-dedo oscilantes.
Na casa, ligas a caldeira
porque lá fora o frio corta,
mas o calor que pedes
nessas «voltas» que dás nas palavras
está lá, e agora também
presente em ti,
vá-se lá saber um porquê.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

MAR D' AÇO



Saio à rua, mas logo regresso,
num tortuoso dia de Fevereiro.
Iniciou-se cedo ou mesmo agitado,
nas movimentações que supuravam
___________________________[do «cume» do prédio,

talvez de certo vizinho(a)? afoito, ou ávido «quiçá»
em encontrar-se com a luz de um sol
que perdeu,
algures num verão passado.
Estendais mantêm-se imóveis,

como se de paisagens persistentes se tratassem,
gaivotas rondam insistentes por aqui,
mero sinal objectante dum mar d’ aço
contra a sua presença lá.

Fui ver o seu tom pálido,
a ausência de cores quentes
que nos envolvem em Julho, é gritante.
Por isso voltei,

sem saber ao certo
o pouco ou nada
que «vasculho» daqui.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AVENIDA



Incrível como as mãos nos pesam,
quando nos encontramos
apenas com nós próprios.
Sentimos que o tempo quase nos ultrapassa,

mas não temos motivos
para nos sentir ultrapassados,
porque fazemos questão de viver
essa oportuna mudança cravada na nossa existência

e passar por «ela», como se “ela”
fosse apenas, uma fotografia digital.
Os cenários que nos ladeiam
esfumam-se, na longa Avenida da Cidade,

como cigarros voam à varanda.
Existe ainda um gato preto
que deambula na tua fronte, e tu
observa-lo, paciente.