As pessoas preenchem espaços.
Como se por obra da sua existência
se nos pudessem emprestar
um pouco daquilo que são.
Preenchem espaços e partilham,
coexistem-se no amor.
Ocupam a parte que lhes pertence
levando consigo um pouco de nós.
E o outono desencaminha-nos
entre sorrisos e abraços
que se não dão.
Por exemplo, no outro dia
imaginei – enquanto mijava –
amigos e o espaço que ocupam
no outono, quando a chuva
regressa e nos limita os corpos
criando lugares vagos
na nossa cabeça ou
dentro dos espaços
que a razão nos vaga.
E enquanto mijava pensei nos versos
e na poesia das pessoas
que ocupam espaços
e fazem parte de nós
que ocupam espaços
e fazem parte de nós
daquilo que somos ou julgamos ser
dentro das nossas cabeças. Mas as
pessoas ocupam espaços, não o espaço
pessoas ocupam espaços, não o espaço
físico de uma sala de quatro paredes
mas antes os espaços que partilhamos
na nossa memória:
o espaço que dispomos
dentro da nossa cabeça ou coração.
É assim que os poemas se compõem
com este vagar de aranha
entre nós que se atam à vida
como a gente que se enreda por nós.
E é assim que os espaços se preenchem
nas nossas cabeças como se a voz
que trazemos por dentro
fosse um reflexo da nossa loucura
nas nossas cabeças como se a voz
que trazemos por dentro
fosse um reflexo da nossa loucura
um espaço aberto e coberto de amor
entre outros espaços, prontos a partilhar.